READ, THINK AND REFLECT.

Escrito por RBH, Maio de 2010


14-04-2008. Foi neste dia que tudo desabou.

Eu estava na sala, a ver televisão. A minha mãe recebe uma chamada da minha tia. Foi a pior chamada que alguma vez poderia ter recebido. Com ela vinha uma notícia, que eu queria que nunca tivesse existido: a minha prima, Marta, com 6 anos na altura, tinha um tumor no cérebro, o qual estava a afectar o nervo óptico (aquele que nos faz ver): ou seja, ela estava cega. Literalmente. Uma ciança normal, que nunca tinha feito mal a ninguém, que nunca tinha sequer levantado uma mão para bater em alguém; uma menina que queria ser bailarina. Adorava dançar, adorava brincar, adorava ser livre e brincar às bonecas.

A minha reacção: liguei à minha melhor amiga na altura, a chorar desalmamente. O pior foi ver a minha mãe, o meu pai e a minha irmã também a chorarem, isso fez-me ainda pior. Os primeiros três ou quatro dias depois daquela chamada, foram os piores. Nessa mesma noite, a minha mãe viajou para Lisboa, onde ela tinha sido internada. Chegou lá de madrugada, ao hospital. Os pais dela, a minha mãe e os outros tios, dormiram no hospital durante 2 dias, na sala de espera, sem comer nem beber, praticamente. IPO de Lisboa (Institudo Português de Oncologia), foi lá que ela foi operada de urgência, para tentarem tirar parte do tumor. E foi operada no dia dos seus anos (18 de Abril de 2008). Uma operação que não deu em nada. Quando acordou no dia a seguir, a única coisa que disse foi "Sonhei que era uma borboleta".A frase que mais me marcou até hoje.

Já tinha feito mil e um exames, porque ela queixava-se que via mal. Mas não, muitos dos melhores médicos de Portugal disseram que era apenas falta de vista, e mudavam-lhe as lentes dos óculos, apenas.

Até que veio o dia que mudou tudo. Desde aí, começou a fazer quimioterapia. Que diminuiu um pouco o tumor, mas a vista total ela nunca a vai poder recuperar. Entrou para o segundo ano a aprender apenas Braille, o alfabeto dos invisuais.

Hoje, está no terceiro ano, continua a ler e a escrever apenas em Braille, pratica natação e tem uma capacidade de aprender melhor que muitos da sua turma. É uma excelente aluna, e passa com distinção.

Um sorriso por mais pequeno que seja, enche-me a alma. É tudo o que quero ver nela. Eu convivo com ela diariamente, e sinto os perigos que ela sente ao andar na rua: passeios com pedras meio saídas, escadas, degraus, tudo. Ela tropeça em tudo, em todo o sítio que não conhece. O mundo está apenas adaptado aos que conseguem mover-se sem dificuldades. Não há lugar, nem restaurante, nem café, nem loja que tenha sequer uma coisa em Braille.

Isso é o que dói mais, ver que aqueles que não vêm, têm que mover montanhas, para conseguir apenas uma frase escrita no alfabeto que só eles percebem. É horrível saber que a minha prima, para ler um livro tem que esperar se calhar um mês, para se ir a Lisboa, à Fnac, para lhe traduzirem um livro normal, para Braille. É horrível. E pior ainda, pensar que custa balúrdios.

Na minha escola, um menino que também é invisual, tem os mesmos problemas. E a escola adaptou-se a ele. TINHA, à porta de cada sala, das casas de banho e de tudo, um papel em Braille, para ele ler e para saber onde vai. Mas há aquelas pessoas sem civismo, sem piedade, que arrancaram tudo.

Gostava que um dia eles precisassem, e percebessem a falta que faz para aqueles que não vêm. Assusta até, saber que existem pessoas tão indiferentes a este tipo de situações.

Gostava que se desse mais valor aos sorrrisos e às coisas boas. Porque, digo-vos, um sorriso faz a diferença.

12 comentários:

  1. wooow querida, este texto está fortissimo e cheio de razão. este mundo, é um mundo muito cruel para aqueles que sofrem de verdade. e a tua prima é muito forte. é pena não existirem tantas pessoas como ela, como tu. beijinhos

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  2. O problema da humanidade é não passarem por estas situações, o que é desnecessário para perceberem que realmente as mentalidades tem de mudar!
    Contudo, felizmente percebo e apoio essa tua revolta, que também é minha pois custa-me ver pessoas sofrerem dessa maneira!
    Beijo no coraçãozinho da tua prima.

    Rafaela

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  3. arrepeiei-me ao ler a tal frase,

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  4. querida o texto está cheio de força

    p.s - a tua prima pode ser pequena mas tem muita mais força que os que não se adaptam a casos de invisilidade (e não só!)

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  5. o: wooow* escreves mesmo bem
    sim e tu querida?

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  6. obrigada Rita (:! Li o primeiro texto nao percebi entao li este, e é um grande texto, é uma história que merece ser contada. A tua prima é "grande" ;D

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  7. Que texto, adorei lê-lo e ver que, afinal, vale a pena viver seja com dificuldades ou não. Adorei mesmo.

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  8. Fiquei sem palavras.
    É tão triste ver como pessoas com o mesmo problema que a tua prima têm tanta dificuldade em adaptar-se a diversas situações, tudo porque o mundo não pensa que poderão haver pessoas assim.
    Desejo força para ti e para a tua prima :)

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  9. tocou'me mesmo, sou super sensivel :s
    Forçaaa (aa) :)

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  10. és linda Rita , simplesmente amei .
    by: teresa

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obrigada! volta sempre. cheers*