KURT COBAIN [1967-1994].

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"Há anos que não sinto nenhuma emoção de ouvir, ou mesmo de criar música nem sequer compor ou escrever. Isto faz-me sentir terrivelmente culpado para além daquilo que as palavras conseguem exprimir. Por exemplo quando estávamos nos bastidores, as luzes diminuíam e da multidão subia um rugido maníaco aquele momento não me fazia o efeito que faria, por exemplo, a Freddie Mercury que parecia adorar e absorver energia da adoração do público. Uma coisa que admiro e lhe invejo facto é que não posso fazer troça de vocês, de nenhum de vocês. Não seria bonito nem para vocês nem para mim. O pior crime que eu podia conceber era o de gozar com o próximo, tentando fazer acreditar que para mim era um divertimento a cem por cento. Às vezes, antes de entrar para o palco, sentia-me como se tivesse um relógio a bater dentro de mim. Tenho tentado tudo que esta ao meu alcance para apreciar o facto de que eu/nós deixámos uma marca e divertimos muita gente. Devo ser um desses narcisistas que só dá valor as coisas quando as perde, uma daquelas pessoas que goza as coisas somente quando está sozinho. Sou demasiado sensível. Oh, precisava de ser um pouco mais insensível para reconquistar um pouco do entusiasmo que sentia em criança. Nas nossas ultimas três digressões, recebi um acolhimento muito melhor que no passado por parte de todos aqueles que conheço pessoalmente e de todos os fâs da nossa musica. Apesar disso, não consigo ainda libertar-me da sensação de frustração e de culpa que sinto em relação a cada um. Há qualquer coisa de bom em cada indivíduo. Só que eu amo demasiado as pessoas. Amo-as tanto que isso me faz sentir demasiado… triste – triste, pequeno, demasiado sensível, não apreciado; sou um cordeiro de sacrifício… Porque é que não gozas a cena? Eu não sei! Foi belo, muito belo e estou-vos grato por isso. Mas, desde os sete anos, desenvolvi um profundo ódio no que diz respeito aos seres humanos em geral … e isto só porque amo demasiado e experimento sentimentos demasiado fortes pelas pessoas, pelo menos eu acho. Agradeço-vos a todos do fundo do meu estômago queimado de náusea pelas vossas cartas e por se terem preocupado comigo durante os anos passados. Sou uma pessoa demasiado instável e de humores e, agora, não experimento mais nenhuma paixão. Assim, recordem-se que é melhor arder numa só labareda do que enferrujar a pouco e pouco. Paz. Amor. Empatia. Amo-vos, AMO-VOS!"


Este texto encontrado ao lado do seu cadáver a 8 de Abril de 1994. A carta de despedida foi escrita com tinta vermelha. Junto o corpo encontrado na manha de 8 Abril estavam várias cassetes entre elas uma cópia de In Útero, a carta de despedida, o BI, carta de condução. Kurt vestia jeans rasgados e uma t-shirt e calçava All Stars. Em Los Angeles e um pouco por todo mundo as rádios tocaram durante todo dia os álbuns dos Nirvana em homenagem ao homem que tinha conseguido irmanar milhões de pessoas com a sua visão distorcida do mundo. Não era a primeira vez que uma estrela abandonava os palcos antes do tempo. O que é inédito é nos ter dado acesso aos recônditos da sua mente perturbada de forma tão clara e angelical transformando a sua morte numa enorme tela onde todos conseguimos pintar um traço que revele as paranóias, as depressões, os fantasmas, as obsessões que julgamos ter sob controlo. E por fim o que nos resta é a musica.

1 comentário:

  1. epá, amo, mas podias ter escolhido uma imagem melhor, ele aí ainda era novo :x

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obrigada! volta sempre. cheers*